doses de melancolia e café [conto]
Eu bebo um cappuccino de canela toda segunda-feira de manhã, é o que me ajuda a ter forças para iniciar a semana. Antes de entrar na universidade que dou aula, sento em uma mesa nos fundos do café, perto da bancada, e permito pensar apenas em mim por alguns momentos, enquanto a bebida quente aquece minha garganta.
Quando ele entra no café, eu o reconheço assim que a luz recai em sua face. Eu costumava conversar com ele há 12 anos atrás. Ele me vê, e observo o seu rosto passar de dúvida para reconhecimento, e de reconhecimento para surpresa. Ele então se aproxima devagar da mesa onde eu estou sentada.
— Eu não sei se você se recorda de mim, mas costumávamos conversar alguns anos atrás.
Dou um sorriso leve.
— É claro que eu me lembro de você. Você gosta de Taylor Swift, me emprestou o livro das virgens suicidas e a trilogia de mangás de Your Name. Você me fez um desenho dos Beatles, e eu ainda tenho ele guardado comigo.
Ele arregala os olhos, surpreso.
— Como pode lembrar de todas essas coisas?
— Eu nunca me esqueço das pessoas que fizeram parte da minha vida.
Passamos um tempo nos encarando, até que a dor do silêncio torna-se demais.
— Sinto muito. - sussurro.
— Pelo quê? - ele questiona.
— Você sabe o porquê.
Ele dá um sorriso triste.
— Tá tudo bem, Amélia. Não precisa se desculpar por isso. Não podemos obrigar ninguém a nos amar.
Eu encaro ele, seu olhar brilha, mas consigo sentir a tristeza em seus olhos. É a mesma que está presente nos meus.
— É, não podemos.
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